domingo, 28 de junho de 2009

Lenda da Bugiada e da Mouriscada/1ª Feira da Saúde AVVL



* Fotos da actividade "1ª Feira da Saúde AVVL" da autoria da formanda Maria do Carmo Costa. Actividade realizada no mesmo dia que as marchas sanjoaninas do concelho, a que os formandos e formadores deste curso assistiram. Ambas as actividades se desenrolaram no âmbito do Tema de Vida 3 ("Somos Consumidores").


Lenda da Bugiada e da Mouriscada - S. João de Sobrado

Nos tempos em que os Mouros povoavam a Serra de Cuca Macuca, hoje de Santa Justa, em Valongo, e Serra da Pia na encosta entre Valongo e terras de Aguiar de Sousa, o Rei dessa tribo tinha uma filha primogénita que, ao fazer os seus 16 anos de idade, adoeceu gravemente.
O Rei, muito poderoso e abastado, ao ver a princesa desfalecer, tentou por todos os meios ao seu alcance curar a nobre e bonita descendente, procurando os melhores cientistas e curandeiros para obter a cura da idolatrada princesa, mas, nada fazia suster o mal e sofrimento da grave doença.
Perto do seu reino, havia um povo de raça visigoda, que se dedicava aos trabalhos agrícolas e professava a religião cristã, a quem recorria nas suas aflições e pelo qual era sempre atendido.


O Rei mouro, embora incrédulo, ao ouvir falar desses milagres concedidos aos Cristãos, procurou o velho Rei cristão e pediu-lhe para interceder junto do Santo, por sua filha princesa, tudo prometendo para conseguir os seus desejos.
Os Cristãos acederam ao pedido, recorrendo ao seu venerando santo orago e, perante a grande admiração da tribo mourisca, a princesinha retomava a saúde tão desejada, voltando mais bonita que nunca ao seio da sua tribo, para alegria do seu povo e glória de S. João.
O Rei, ufanoso e cheio de autoridade, ordenou grandes festas em honra de S. João, reunindo toda a tribo; convidou os Cristãos a participar nas festas, mandando confeccionar um lauto banquete e no fim o Santo seria levado em majestosa procissão, com o andor conduzido pelos Mouros.
Convencido de que daí em diante toda a força e caprichos das suas resoluções estariam na veneranda imagem, começou a pensar em apoderar-se da mesma chegando a reivindicar essa posse, mas os Cristãos não estavam nessa disposição, logo fazendo ver que não cederiam o Santo milagroso.
Ao iniciar o grande banquete, o Rei mouro fez o pedido formal aos Cristãos, que foi logo recusado.
O Rei mouro, enraivecido e orgulhoso, ordenou que durante o animado banquete os Cristãos fossem humilhados e, assim, deu ordem aos servidores para eles serem servidos em mesa separada.
Os Cristãos, entristecidos e atemorizados, sujeitaram-se às humilhações, mas tomaram parte na festa.
Terminada a grande celebração, o Rei mouro voltou a exigir em tom autoritário e ameaçador, a imediata entrega do Santo, sem qualquer reserva e condição, mas os Cristãos contestaram fortemente essa atitude, o que levou o Rei mouro a ordenar aos seus apaniguados para tomarem pela força a veneranda imagem milagrosa.
Os Cristãos, embora reconhecessem o grande poder físico e guerreiro dos seus adversários e opressores, organizaram-se e prepararam-se para qualquer ataque traiçoeiro, firmes na sua crença inabalável no Santo protector. Pediram a S. João mais um milagre em tão afrontosa situação, pois, sem a sua imagem, não poderiam sobreviver nas suas vicissitudes. Invocando do Santo a protecção para os combates ferozes que teriam de travar com os seus insaciáveis inimigos, logo foram incentivados por forte vontade de lutar até à derrota total dos seus terríveis opositores.
Os Mouros embora valentes guerreiros, eram supersticiosos e, portanto, havia que pensar em certas artimanhas que os pudessem atormentar para que desanimassem. Perto do acampamento cristão havia outra tribo dum povo visigodo, denominada Bugios, que por certas artimanhas e usos macabros, sempre tinham dominado os Mouros e, por isso, os cristãos logo pensaram em imitá-los, para conseguirem o triunfo.
Os Cristãos intitulando-se Bugios, armaram-se de utensílios do seu trabalho de camponeses, disfarçando-se com máscaras hediondas, objectos macabros, guizos e entoando palavras de ordem barulhentas.
Empunhando as poucas armas que possuíam, dirigiram-se com o seu Rei para a ermida do seu Santo protector, implorando auxílio e aspergindo-se com água benta. O troar dos canhões mouriscos começou a ouvir-se e logo os Cristãos, agora Bugios, sobem ao seu castelo, procuram defender-se e intransigentemente resistir ao ataque valente e feroz dos inimigos.
O Rei mouro, numa última tentativa, manda um embaixador a cavalo junto do castelo cristão propondo mais uma vez a entrega, mas não sendo aceite a proposta pelos Bugios, aparecem então os sábios doutores da lei a dar as suas opiniões a favor dos Cristãos.
Nada, porém, susteve a ferocidade mourisca. A luta continuou e os Bugios, não podendo resistir à fúria adversária, violenta e destruidora dos Mouros, nem os seus emissários e doutores nada podendo fazer para melhorar a situação, foram, assim, forçados os Bugios à capitulação.
O imperialista Rei mouro lança-se, com todos os seus apaniguados, sobre o castelo cristão e, depois de o despojar dos bens, prende o rei dos Bugios. Não valendo sequer o pedido de clemência pelos vencidos que, de joelhos, chorando amargamente a sua derrota, pediam a libertação de seu velho Rei, enquanto os doutores da lei, tentavam por todos os meios convencer o orgulhoso vencedor Mouro, da justeza do direito dos oprimidos Cristãos.
O velho Rei Cristão é levado, sob forte escolta, para lugar seguro no reino mouro, enquanto os Cristãos se reorganizam e imploram a S. João mais um milagre: a libertação do seu chefe.
Iluminados e assistidos pelo seu patrono, logo pensaram vencer os mouros pelo medo, e, assim, construíram a figura de uma enorme serpente, denominada SERPE. Empunhando essa hedionda invenção, no meio da maior algazarra, lançaram-se, loucamente para o acampamento mourisco, onde estava prisioneiro o velho Rei da Bugiada.
Os Mouros, ao presenciar tão ruidoso e macabro cortejo, não mais se lembraram do prisioneiro, fugindo espavoridos, e deixarando em paz e liberdade o velho rei dos Bugios, que logo no meio da maior alegria se juntou aos seus libertadores, correndo em direcção à ermida de S. João, entoando as palavras:
- O SANTO É NOSSO!... O SANTO É NOSSO!...
Enquanto ia dançando em agradecimento pelo novo milagre obtido.
Terminada esta grande contenda, os Mouros desistiram de todas as perseguições aos Cristãos, continuando na faina de exploradores de ouro e de outras riquezas.

Fonte: Prospecto “A lenda da Bugiada e da Mouriscada – O S. João de Sobrado, Valongo”, 1986 (texto adaptado).


Actualmente faz-se a reconstituição desta história em Sobrado:

Os Mourisqueiros
Jovens de vestes garridas, os mouriscos constituem um exército de 40 homens comandado pelo Reimoeiro. Para integrar este exército todos os jovens têm de ser solteiros, por tradição. Um exército Mourisco divide-se em Guias, sub-chefes do rei mouro, Rabos que fazem a ligação com os restantes, e os Meios que assumem papel quando os Rabos estão ocupados em outras funções.
Vestir a “pele” de Mourisqueiro é uma honra que só está ao alcance dos que provam competência para o efeito.

Os Bugios
Primorosamente vestidos e bem apetrechados, foliões, os Bugios são o bizarro da festa pelas suas cores e saltos acrobáticos. Os Bugios desfilam mascarados. O comportamento aparentemente violento contrasta com o ordeiro dos Mourisqueiros, gritando e saltando pelo recinto. O exército Bugio é comandado pelo Velho, que se distingue dos demais pelas suas vestes distintas. O exército Bugio não tem limitações, pode ir quem quiser desde os 8 aos 80.

Fonte (texto adaptado): http://chegacheio.com/index.html







Sugestões de Consulta:
http://saojoaodesobrado.blogspot.com/
http://chegacheio.com/index.html

Recolha de Maria do Carmo Costa

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