sábado, 2 de maio de 2009

"Figuinho da capa rota", Matilde Rosa Araújo

Figuinho da capa rota
É tão pobre e tão rotinho;
Figuinho da capa rota
Foi rota devagarinho

Figuinho da capa rota,
Ai quem te quer almoçar
Figuinho da capa rota
Eu nem o posso provar…

Figuinho da capa rota,
Verde nos primeiros tempos
Veio o Sol e veio a Lua,
Vieram chuvas e ventos.

Figuinho da capa rota,
Que nasceu da mãe-figueira,
Teve sóis e teve luar,
Pássaros à sua beira.

Figuinho da capa rota
Bicado pelos passarinhos:
Figuinho da capa rota
Ninguém lhe põe remendinhos.

Figuinho da capa rota
Tornou-se da cor do mel;
O tempo veio rompê-lo,
Rasgou-se como papel…

Mas agora a mãe-figueira
Está com folhas e sem fruto,
Que o verde é sua maneira
Muito simples de pôr luto.


Araújo, Matilde Rosa , Livro da Tila.
Coimbra: Atlântida Editora, 1973,p.73

Recolha: Maria do Carmo Costa

*Obra do acervo da Biblioteca desta escola

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Miscelânia Queirosiana

«Vi-a numa noite doce,
Em que o rouxinol cantava,
Luminoso pavilhão;
Era Sintra!Sonho lindo!
O aroma das giestas
E a minha voz,uma prece
De louvor ao Ramalhão.»

********************

«Passou o Conde Almirante,
Na sua galé do mar.
Tantos remos hã, por baixo,
Que não se podem contar.»

Quem me quer a mim servir,
Quem quer o meu pão ganhar,
Há-de levar esta carta
A Dom Clarim d'Além-mar.»

Queirós,Eça de , A Tragédia da Rua das Flores.
Lisboa: Edições «Livros do Brasil»,1984, pp. 92, 207


Recolha de Maria do Carmo Costa

"Quadras", Augusto Gil

Venho dum baile. Horas mortas.
Que impressões trouxe gravadas!
Os pais a verem às portas
Se as filhas são procuradas...

Quando tu foste gerada
Pôs-se o Sol nasceu a Lua.
Estava tua mãe deitada,
Andava teu pai na rua.

Nos registos paroquiais
Há muitas páginas cheias
Com pais apenas legais
De criancinhas alheias...

Quando falaste em casar,
Certa noite ardente, escura,
Deitaste sem o pensar
Água fria na fervura.

Nestas tempos dissolutos
Toda a mulher é vendida,
Umas vendem-se aos minutos
-As outras por toda a vida.

Tantos namoros e ao cabo
Não houve um só que adregasse.
Casa-te com o diabo...
Para se ver o que nasce.


Gil, Augusto ,in Cem Poemas do Riso e do Maldizer - Fanha, José e Letria, José Jorge(org.). Cascais: Ed. Terramar, 2003, pp.64-65.

Recolha de Ana Cidália Pereira

* Obra do acervo da Biblioteca desta escola

A GRANDE MURALHA DA CHINA

Os Chineses construíram uma fabulosa muralha há centenas de anos atrás para proteger o seu país dos inimigos. A grande Muralha da China atravessa desrtos, montanhas e pradarias ao longo da fronteira norte da China. Esta muralha é tão longa que até pode ser vista do Espaço.
A grande Muralha da China é feita em pedra. Estas torres de vigia ajudaram os soldados a ver a chegada dos inimigos.

Dalby, Elizabeth - A Minha Primeira Enciclopédia de Geografia. Porto: Porto Editora, 2004, p.29

Recolha de Augusto Silva

* Obra da Biblioteca desta escola


SABES VER EXACTAMENTE ONDE SE SITUA ESTA "MARAVILHA" DO MUNDO NUM MAPA?

"Amor, eu quando penso", Miguel de Cervantes

Amor,eu quando penso
no mal que tu me dás,terrivel,forte,
alegre corro à morte,
para assim acabar meu mal imenso.

Mas quando chego ao passo,
que é meu porto no mar desta agonia,
sinto tal alegria
que a vida se revolta e não o passo.

Assi o viver me mata,
pois que a morte me torna a dar a vida!
Condição nunca ouvida,
a que comigo vida e morte trata!

Cervantes, Miguel de - D. Quixote de La Mancha. Lisboa: Público, 2004, p.768

Recolha de Paulo Ferreira

*Obra do acervo da Biblioteca desta escola

"Todas as cartas de amor são ridículas", Álvaro de Campos

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
têm de ser
Ridículas.
Mas,afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
cartas de amor
É que são
Ridículas.

Fernando Pessoa/Álvaro de Campos in Cem Poemas Portugueses do Riso e do Maldizer - Fanha, José e Letria, José Jorge(org.). Cascais: Ed. Terramar, 2003.

Recolha de Rosário Sousa

*Obra do acervo da Biblioteca desta escola

"Caixinha de Música", Matilde Rosa Araújo

Grilo, grilarim,
Tens um canto azul
Na noite de cetim!

Cigarra, cigarraia,
Tens um canto branco
No dia de cambraia!

Formiga, miga, miga,
Só tu cantas os nadas
Do silêncio do sol,
Das estrelas caladas...

Araújo,Matilde Rosa - Livro da Tila. Coimbra:Atlântida Editora,1973,p.41

Recolha de Maria do Carmo Costa e Ana Cidália Pereira

* Obra do acervo da Biblioteca desta escola

Miscelânea Camoniana

Foi-se gastando a esperança,
Fui entendendo os enganos;
do mal ficaram meus danos
e do bem só a lembrança.

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Senhor,não vos agasteis,
porque Deus vos proverá;
e se mais saber quereis,
nas costas deste lereis
as iguarias que há.

********
Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói,e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

********

Mudam-se os tempos,mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.

********

Julga-me a gente toda por perdido,
vendo-me tão entregue a meu cuidado,
andar sempre dos homens apartado,
e dos tratos humanos esquecido.

********

Camões, Luís de - Poesia Lírica. Lisboa: Ulisseia,1980, pp.57,64,82,102,108

Recolha de Maria do Carmo Costa

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domingo, 26 de abril de 2009

"SONETO", Miguel de Cervantes

Da umbrosa noite no silêncio, quando
meigo sono refaz os mais viventes,
só eu vou meus martírios inclementes
aos céus e à minha Clóris numerando.

Quando o dia os seus raios vem mostrando
entre as rosas d’aurora auri-esplendentes
com suspiros e lástimas ferventes
vou as teimosas queixas renovando.

Se doira o sol a prumo o térreo assento,
não me dissipa as trevas da agonia;
dobra-me o pranto, aumenta-me os gemidos.

Volve a noite, e eu com ela o meu lamento.
Ai! Que sorte! Implorar de noite e dia,
ao céu piedade, e à minha ingrata ouvidos.

Cervantes, Miguel de - D. Quixote de La Mancha.
Lisboa: Público, 2004, pp. 261, 262.

Recolha de Paulo Ferreira

*obra do acervo da Biblioteca desta escola

"Pastor", Eugénio de Andrade

O pastor

Pastor, pastorinho,
onde vais sozinho?

Vou àquela serra
buscar uma ovelha.

Porque vais sozinho,
pastor, pastorinho?

Não tenho ninguém
que me queira bem.

Não tens um amigo?
Deixa-me ir contigo

Eugénio de Andrade

Andrade, Eugénio de in O primeiro Livro de Poesia, Sophia de Mello Breyner Andresen. Lisboa: Ed. Caminho, 1997, p.16

Recolha de José António Ferreira

*Obra do acervo da Biblioteca desta Escola

"O GRANDE PICASSO", José Jorge Letria

O grande Picasso
Conhecia de cor a cor
Que uma tela tem
Quando se enche de amor
Por um rosto esquinado
Ao gosto do pintor.
Foi cubista e fauvista
E até houve quem
Se queixasse da vista
Por não conseguir perceber
O génio do artista.


Letria,José Jorge , Novas Rimas Traquinas, Ed. Terramar, p. 9

Recolha de Ana Cidália Pereira

*Obra do acervo da Biblioteca desta Escola

"D. Quixote de la Mancha", Miguel de Cervantes

Da aridez desta terra desgraçada,
E dos castelos pelo chão lançados,
As santas almas de três mil soldados
Subiram vivas a melhor morada!

Mui grande valentia exercitada
Foi aqui por seus braços esforçados,
Mas afinal já poucos e cansados,
Todos morreram vítimas da espada!
É neste o solo, aonde padeceram
Tristes sucessos as hespanas gentes
No actual século, e nos que já correram.

Mas jamais foram dele aos céus luzentes
Almas tão santas, nem jamais desceram
Ao seio seu uns corpos tão valentes!

Cervantes,Miguel de - D. Quixote de la Mancha. Lisboa: Público, 2004, p.309

Recolha de Fernando Silva

*Obra do acervo da Biblioteca desta Escola