segunda-feira, 8 de junho de 2009

Júlio Verne, "A Ilha Misteriosa"

O mau tempo estava por fim declarado de todo. Na praia soprava com extraordinária violência uma ventania de sudoeste. O mar, então na vazante, batia rugindo de encontro à primeira cinta de rochedos ao longo do litoral. A chuva, levantada antes de chegar ao chão pelas rajadas do vendaval,formava no ar uma espécie de nevoeiro liquido. Pareciam farrapos de nuvens a arrastarem-se por aquela costa, onde as pedras e os seixos batiam uns de encontro aos outros com estrépito semelhante ao da descarga de muitas carroças de calhau. A areia levantada palo vento envolta com a água tornava impossível de aguentar o embate dos aguaceiros. No ar era tanta a poeira mineral como a água reduzida a líquido pó. Entre a embocadura do rio e o ângulo da muralha, o vento redemoinhava em turbilhões e as camadas de ar, que saiam daquele vórtice, como não achavam outra saída senão o estreito vale em cujo fundo se agitava o rio, engalfinhavam-se por ali com irresistivel violência. O fumo que se levantava da lareira, repelido pelo estreito escoadouro abaixo com a força das rajadas, enchia por vazes os corredores da habitação, a ponto de os tornar inabitáveis.

Verne, Júlio - A Ilha Misteriosa. Porto: Ed. Público,2005, p.71

recolha de Ana Cidália Pereira
*obra pertencente ao acervo da Biblioteca desta escola

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