domingo, 26 de abril de 2009

"SONETO", Miguel de Cervantes

Da umbrosa noite no silêncio, quando
meigo sono refaz os mais viventes,
só eu vou meus martírios inclementes
aos céus e à minha Clóris numerando.

Quando o dia os seus raios vem mostrando
entre as rosas d’aurora auri-esplendentes
com suspiros e lástimas ferventes
vou as teimosas queixas renovando.

Se doira o sol a prumo o térreo assento,
não me dissipa as trevas da agonia;
dobra-me o pranto, aumenta-me os gemidos.

Volve a noite, e eu com ela o meu lamento.
Ai! Que sorte! Implorar de noite e dia,
ao céu piedade, e à minha ingrata ouvidos.

Cervantes, Miguel de - D. Quixote de La Mancha.
Lisboa: Público, 2004, pp. 261, 262.

Recolha de Paulo Ferreira

*obra do acervo da Biblioteca desta escola

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